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quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Eu não acho normal


Sou uma jornalista torta. Pode parecer um pouco estranho afirmar isso, mas a verdade é que meu alicerce está nas coisas leves. Tenho dificuldade em não absorver uma notícia. Não consigo fechar os olhos para as atrocidades - com certeza nenhum jornalista consegue -, mas ainda existem aqueles que estão, de alguma forma, acima de tudo isso e conseguem por um instante se dividir. Eu não.

O massacre na Síria me calou hoje. Perdi a vontade de continuar lendo os jornais, de ir mais a fundo na notícia. Por um momento agradeci não precisar mergulhar no fato, embora ele não vá sair de mim tão cedo. Por um instante fiquei feliz em exercer a profissão em um cargo que não exige isso de mim. E por um momento admirei ainda mais os colegas de profissão que conseguem encarar de frente, deixando um pouco de lado suas percepções para simplesmente apurar e noticiar.

Meu texto não é para apontar culpados, muito menos para fazer análises políticas, até porque é um assunto complexo demais para ser debatido em poucos caracteres. Escrevo só pra desabafar: não, eu não acho normal.

Não consigo abrir o jornal, dar de cara com imagens chocantes e seguir o meu dia como se nada tivesse acontecido. Muitos vão dizer: "não foi a primeira vez", "talvez não tenha sido o pior atentado da história", não me importa, vou me impressionar sempre. Não acho normal a frieza da humanidade. Não estou generalizando, mas o cotidiano tem nos tornado cada vez mais omissos. O absurdo virou rotina. As barbaridades são tantas que já não chocam mais.

Não sou psicóloga para analisar o ser humano, nem cientista política para fazer longas explanações sobre o assunto. Mas hoje, por um instante, emudeci. E foi esse silêncio que me impulsionou a falar: não quero me acostumar. Normal é não achar normal. É se entristecer mesmo com aquilo que não podemos alterar, até para poder, quem sabe, mudar as pequenas injustiças do cotidiano que estão ao nosso alcance. Normal é frustrar-se para quem sabe enxergar o quanto somos pequenos, embora nossas pequenas atitudes possam sim provocar grandes mudanças.


Normal é sentir. E hoje, eu sinto muito!


Fernanda Gaona

3 comentários:

Paixão disse...

Vi um video do Leminski em que ele dizia "O torto tem direito" e no seu caso, de jornalista, acho que o torto é que é direito!

Um beijo,
Débora Paixão

Nequéren Reis disse...

Olá!!!, Deus te abençoe, amiga as pessoa tortas são as verdadeiras, o seu blog é maravilhoso continue assim, S-U-C-E-S-S-O
Já estou te seguindo, aguardo a retribuição.
Canal de youtube: http://www.youtube.com/NekitaReis
Fanpage: https://www.facebook.com/pages/Batom-Vermelho/490453494347852?ref=ts&fref=ts
Blog: http://arrasandonobatomvermelho.blogspot.com.br

Unknown disse...

Oi Fernanda eu li um texto seu no blog Cadê o meu abraço? e vim correndo conhecer seu blog de pertinho...hehehe!
Fiquei muito feliz em ler suas palavras, você é uma jornalista que pensa e sente com o coração, isso não é ser torta é ser especial e o mundo precisa de mais pessoas igual a você!

Um Grande Abraço!
Estrela,Flores...Melancia