Sou uma jornalista torta. Pode parecer um pouco estranho
afirmar isso, mas a verdade é que meu alicerce está nas coisas leves. Tenho
dificuldade em não absorver uma notícia. Não consigo fechar os olhos para as
atrocidades - com certeza nenhum jornalista consegue -, mas ainda existem
aqueles que estão, de alguma forma, acima de tudo isso e conseguem por um
instante se dividir. Eu não.
O massacre na Síria me calou hoje. Perdi a vontade de
continuar lendo os jornais, de ir mais a fundo na notícia. Por um momento
agradeci não precisar mergulhar no fato, embora ele não vá sair de mim tão
cedo. Por um instante fiquei feliz em exercer a profissão em um cargo que não
exige isso de mim. E por um momento admirei ainda mais os colegas de profissão
que conseguem encarar de frente, deixando um pouco de lado suas percepções para
simplesmente apurar e noticiar.
Meu texto não é para apontar culpados, muito menos para
fazer análises políticas, até porque é um assunto complexo demais para ser
debatido em poucos caracteres. Escrevo só pra desabafar: não, eu não acho
normal.
Não consigo abrir o jornal, dar de cara com imagens
chocantes e seguir o meu dia como se nada tivesse acontecido. Muitos vão dizer:
"não foi a primeira vez", "talvez não tenha sido o pior atentado
da história", não me importa, vou me impressionar sempre. Não acho normal
a frieza da humanidade. Não estou generalizando, mas o cotidiano tem nos
tornado cada vez mais omissos. O absurdo virou rotina. As barbaridades são
tantas que já não chocam mais.
Não sou psicóloga para analisar o ser humano, nem cientista
política para fazer longas explanações sobre o assunto. Mas hoje, por um instante, emudeci. E
foi esse silêncio que me impulsionou a falar: não quero me acostumar. Normal é
não achar normal. É se entristecer mesmo com aquilo que não podemos alterar,
até para poder, quem sabe, mudar as pequenas injustiças do cotidiano que estão
ao nosso alcance. Normal é frustrar-se para quem sabe enxergar o quanto
somos pequenos, embora nossas pequenas atitudes possam sim provocar grandes
mudanças.
Normal é sentir. E hoje, eu sinto muito!
Fernanda Gaona